Nota do tradutor: links indicados dentro de « » e realces desta cor, são da minha responsabilidade
Tradução do artigo “Insurrection and Military Intervention: The US-NATO Attempted Coup d’Etat in Libya?“
7 de Março de 2011
Os EUA e a NATO estão a apoiar uma insurreição armada na Líbia Oriental, com o objectivo de justificar uma “intervenção humanitária”.
Este não é um movimento de protesto pacífico como os do Egipto e Tunísia. As condições na Líbia são fundamentalmente diferentes. A insurreição armada na Líbia Oriental está a ser directamente apoiada por potências estrangeiras. A insurreição em Benghazi ergueu de imediato a bandeira vermelha, negra e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do «rei Idris», que simbolizava o domínio das antigas potências coloniais. (Consultar Manlio Dinucci, Libya-When historical memory is erased, Global Research, 28 de Fevereiro de 2011)
Os conselheiros militares e as forças especiais dos EUA e da NATO já estão no terreno. A operação foi planeada para coincidir com o movimento dos protesto nos países árabes vizinhos. A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto se espalhou espontaneamente da Tunísia e do Egipto para a Líbia.
O governo Obama em consulta com seus aliados, está a ajudar uma rebelião armada, ou seja, uma tentativa de golpe de Estado:
“O governo de Obama está pronto a oferecer “qualquer tipo de assistência” aos líbios que procuram expulsar Moammar Gadhafi, temos vindo a chegar a muitos diferentes líbios que estão a tentar organizar-se no leste, enquanto a revolução se move para oeste também“, disse a secretária de Estado Hillary Clinton [a 27 de Fevereiro de 2011]. «Hillary Clinton: U.S. Stands Ready To Aid Libya Protesters»
“Eu acho que é muito cedo para dizer como isso vai ser jogado, mas estaremos prontos e preparados para oferecer qualquer tipo de assistência a quem a queira ter dos Estados Unidos“.
Estão em curso esforços para formar um governo provisório na parte oriental do país, onde a rebelião começou no meio do mês.
Clinton disse que os Estados Unidos estão a ameaçar o governo de Kadhafi com mais medidas, mas não disse que mediadas eram ou quando iriam ser anunciadas. Os EUA deverão “reconhecer algum governo provisório que estão já a tentar estabelecer …” [McCain]
Joe Lieberman pronunciou-se em termos semelhantes, instando a um “apoio tangível, a (uma) zona de exclusão aérea, ao reconhecimento do governo revolucionário, ao governo pelos cidadãos e ao apoio a eles com ajuda humanitária e eu lhes fornecerei armas“. «Lieberman, McCain: Recognize Libyan opposition as government and arm them»
A INVASÃO PLANEADA
Agora, está a ser considerada uma intervenção militar pelas forças dos EUA e NATO sob um “mandato humanitário“.
–“ Os Estados Unidos estão a mover forças navais e aéreas para a região” para ”preparar a gama completa de opções” para o confronto com a Líbia: anunciou Cor. Dave Lapan dos Fuzileiros Navais, porta-voz do Pentágono, [a 1 Março 2017]. Disse depois que “foi foi o presidente Obama que pediu aos militares para se prepararem para essas opções”, porque a situação na Líbia está a ficar pior“. (Manlio Dinucci, Preparing for “Operation Libya”: The Pentagon is “Repositioning” its Naval and Air Forces…, Global Research, 3 de Março de 2011)
O objectivo real da “Operação Líbia“ não é estabelecer a democracia mas sim tomar posse das reservas de petróleo líbias, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) (companhia petrolífera estatal sediada em Tripoli – Ndt) e eventualmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controlo e propriedade da riqueza petrolífera da Líbia para mãos estrangeiras. A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 100 principais companhias de petróleo. (The Energy Intelligence ranks NOC 25 among the world’s Top 100 companies. – Libyaonline.com)
A Líbia está entre as maiores economias de petróleo do mundo com cerca de 3,5% das reservas mundiais de petróleo, mais do dobro das dos EUA. (Para mais detalhes, consulte a Parte II deste artigo, “Operação Líbia“ e a Batalha pelo Petróleo)
A invasão planeada à Líbia e que já está em andamento, faz parte da “Batalha pelo Petróleo“. Cerca de 80% das reservas de petróleo da Líbia estão localizadas no golfo de Sirte, na Líbia Oriental. (consultar mapa abaixo)
Os pressupostos estratégicos por trás da “Operação Líbia” são uma reminiscência dos empreendimentos militares anteriores entre os EUA e NATO, na Jugoslávia e Iraque.
Na Jugoslávia, as forças USA-NATO desencadearam uma guerra civil. O objectivo era criar divergências políticas e étnicas, que conduziram eventualmente à fragmentação do país inteiro. Este objectivo foi alcançado com financiamento secreto e também com o treino de forças paramilitares armadas, primeiro na Bósnia (Bosnian Muslim Army, 1991-95) e a seguir no Kosovo (Kosovo Liberation Army (KLA), 1998-1999). Tanto no Kosovo como na Bósnia, a desinformação dos media (incluindo mentiras e invenções) foi utilizada para apoiar as afirmações dos EUA-UE, de que o governo de Belgrado havia cometido atrocidades, que justificavam a intervenção militar por razões humanitárias. (por razões humanitária ou na defesa de cidadãos que estão nas mãos de tiranos! O Mundo não aprende – Ndt)
Ironicamente, a “Operação Jugoslávia” é agora falada pelos criadores da política externa Norte Americana: O senador Lieberman comparou a situação da Líbia com os acontecimentos nos Balcãs na década de 1990, ao dizer que os EUA “intervieram para travar o genocídio contra os bósnios. E a primeira coisa que fizemos, foi proporcionar-lhes as armas para se defenderem. Isto é o que penso que devemos fazer na Líbia“. ( Clinton: US ready to aid to Libyan opposition – Associated , Press, 27 de Fevereiro de 2011).
O cenário estratégico seria o de impulsionar a formação e o reconhecimento de um governo interino da província separatista, com o objectivo de eventualmente romper o país. Esta opção já está em andamento. A invasão da Líbia já começou.
“Centenas de conselheiros militares americanos, britânicos e franceses chegaram à Cirenáica, província separatista do Leste. Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, abandonaram os navios de guerra e navios de mísseis, nas cidades costeiras de Benghazi e Tobruk” (DEBKAfile, US military advisers in Cyrenaica, 25 de Fevereiro de 2011)
Forças especiais dos EUA e dos seus aliados estão no terreno na Líbia Oriental, a dar apoio secreto aos rebeldes. Tal facto foi reconhecido quando alguns comandos britânicos das SAS foram presos na região de Benghazi. Estavam a actuar como conselheiros militares para as forças de oposição:
”Oito comandos das forças especiais britânicas, que estavam a operar numa missão secreta para colocar diplomatas britânicos em contacto com os principais oponentes ao Cro. Muammar Kadafi na Líbia, acabaram por ser humilhados depois de terem sido presos por forças rebeldes na Líbia Oriental”, informou o Sunday Times de hoje.
”Os homens, armados mas à paisana, afirmaram que foram verificar as necessidades da oposição e oferecer ajuda”. (Top UK commandos captured by rebel forces in Libya: Report, Indian Express, 6 de Março de 2011
As forças das SAS foram presas enquanto escoltavam uma “missão diplomática“ britânica que entrou ilegalmente no país (sem dúvida de um navio de guerra britânico) para se encontrar com líderes da rebelião.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico reconheceu que “uma pequena equipe diplomática britânica [tinha sido] enviada ao leste da Líbia para iniciar contactos com a oposição apoiada pelos rebeldes”. U.K. diplomatic team leaves Libya – World – CBC News, 6 de Março de 2011).
Ironicamente, os relatórios não só confirmam a intervenção militar ocidental (incluindo várias centenas de forças especiais), como também reconhecem que a rebelião se opunha firmemente à presença ilegal de tropas estrangeiras em solo líbio:
“A intervenção das SAS enraiveceu algumas figuras líbias da oposição, de tal forma que ordenaram que os soldados fossem trancados numa base militar. Os oponentes de Kadafi temem que ele possa utilizar qualquer evidência da interferência militar ocidental para congregar apoio patriótico para o seu regime”. ( Reuters , 6 de Março de 2011)
O diplomata britânico capturado com sete soldados das forças especiais era um agente do MI6 numa “missão secreta”. ( The Sun , 7 de Março de 2011)
Declarações dos EUA e da NATO confirmaram que estão a ser fornecidas armas às forças da oposição. Existem indícios, embora não hajam até agora evidências claras, de que foram entregues armas aos insurrectos antes do desencadeamento da insurreição. Com toda a probabilidade, conselheiros militares e da inteligência dos EUA e da NATO estariam também no terreno antes dela. Este foi o padrão aplicado no Kosovo: forças especiais a apoiar e a treinar o Kosovo Liberation Army (KLA), nos meses que antecederam a campanha de bombardeamentos de 1999 e a invasão à Jugoslávia.
Contudo, à medida que os eventos se desenrolam, as forças do governo líbio recuperaram controle sobre algumas posições rebeldes:
“A grande ofensiva das forças pró-Kadafi lançadas [a 4 Março] para arrebatar das mãos dos rebeldes o controle das cidades e centros petrolíferos mais importantes da Líbia resultou [a 5 Março], na recaptura da cidade chave de Zawiya e da maior parte das cidades petrolíferas em torno do Golfo de Sidra. Em Washington e Londres, a referência à intervenção militar ao lado da oposição líbia foi silenciada pela constatação de que as informações vindas de ambos os lados do conflito líbio, eram muito superficiais, para servirem de base na tomada de decisões“. (Debkafile, Qaddafi pushes rebels back. Obama names Libya intel panel , 5 de Março de 2011)
O movimento da oposição está firmemente dividido em relação à questão da intervenção estrangeira. A divisão existe entre o movimento de base, por um lado, e os “líderes” apoiados pelos EUA da insurreição armada que favorecem a intervenção militar estrangeira sob “motivos humanitários”. A maioria da população líbia, tanto os defensores como os opositores do regime, opõem-se firmemente a qualquer tipo de intervenção externa.
A desinformação dos media
Os principais objectivos estratégicos subjacentes à invasão proposta, não são mencionados pelos media. Na sequência de uma campanha enganosa deles, onde as notícias foram literalmente fabricadas sem relatarem o que realmente estava a acontecer no terreno, um grande sector da opinião pública internacional concedeu seu apoio inflexível à intervenção estrangeira, sob razões humanitárias.
A invasão está no planos do Pentágono. Está prevista que seja realizada independentemente das exigências do povo da Líbia, incluindo os opositores do regime, os quais manifestaram a sua aversão à intervenção militar estrangeira à derrogação da Soberania Nacional.
O posicionamento das forças naval e aérea
Se essa intervenção militar se realizar, resultará numa guerra, uma guerra-relâmpago, que implica o bombardeamento de alvos militares e civis. A este respeito, o general James Mattis, comandante do Comando Central dos EUA (USCENTCOM), intimidou que o estabelecimento de uma “zona de exclusão aérea” implicaria de facto uma campanha de bombardeamento total, visando entre outros, o sistema de defesa aérea da Líbia:
‘‘Seria uma operação militar – não seria apenas dizer às pessoas para não pilotarem aviões. ‘Teria que se remover a capacidade da defesa aérea, a fim de estabelecer uma zona de exclusão aérea, não tenhamos ilusões.’ (U.S. general warns no-fly zone could lead to all-out war in Libya, Mail Online, 5 de Março de 2011).
Uma força naval dos EUA e de aliados foi posicionada ao longo da costa líbia.
O Pentágono está a mover os seus vasos de guerra para o Mediterrâneo. O porta-aviões USS Enterprise transitou através do Canal de Suez poucos dias após a insurreição. ( http://www.enterprise.navy.mil ). Os navios anfíbios dos EUA, USS Ponce e USS Kearsarge, também foram posicionados no Mediterrâneo.
USS Enterprise a transitar no Canal de Suez no Egipto, 15 de Fevereiro de 2011. handout photo, U.S. N
Foram enviados 400 fuzileiros navais dos EUA para a ilha grega de Creta “antecipando o posicionamento de navios de guerra ao largo da Líbia” ( Operation Libya”: US Marines on Crete for Libyan deployment , Times of Malta, 3 Março de 2011). Enquanto isso, a Alemanha, França, Grã-Bretanha, Canadá e Itália estão no processo de posicionarem vasos de guerra também ao longo da costa líbia.
A Alemanha posicionou três navios de guerra com o pretexto de dar assistência à evacuação de refugiados na fronteira Líbia-Tunísia.
“A França decidiu enviar o Mistral, o seu porta-helicópteros, o qual, segundo o Ministério da Defesa, contribuirá para a evacuação de milhares de egípcios”. (Towards the Coasts of Libya: US, French and British Warships Enter the Mediterranean, Agenzia Giornalistica Itália, 3 de Março de 2011). O Canadá despachou (a 2 Março) a fragata HMCS Charlettetown.
Entretanto, a Décima Sétima Força Aérea Expedicionária dos USA, (17 EAF -Ndt), sediada na base aérea de Ramstein na Alemanha, está dar apoio à evacuação de refugiados. As instalações da força aérea dos EUA/NATO na Grã-Bretanha, Itália, França e Médio Oriente estão em modo de espera.
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