Kathryn Bolkovac é uma antiga investigadora da polícia americana de Nebraska. Agente policial e mãe divorciada, Kathyrn procurava por um novo começo quando se inscreve como monitor da Polícia Internacional das Nações Unidas na Bósnia.
Originalmente contratada pela empresa Americana DynCorp no âmbito de um contrato com a ONU, Kathyrn entrou com uma acção judicial na Inglaterra contra a empresa, por ter sido despedida sem justa causa ao denunciar os resultados de uma investigação que levou a cabo. A 2 de Agosto de 2002, o tribunal por unanimidade é a seu favor.
DynCorp tinha um contrato de fornecimento de policiais a integrar numa força policial internacional de 2.100 membros da ONU na Bósnia, criada para ajudar na restauração da lei e da ordem.
‘quando comecei a recolher provas das vítimas do tráfico sexual, ficou claro que um número de oficiais de vários países da ONU estavam envolvidos, incluindo alguns da Grã-Bretanha. Eu fiquei chocada e revoltada. Eles deveriam estar lá para ajudar, mas eles próprios estavam a cometer estes crimes. Quando reportei aos supervisores, não quiseram saber” – referiu Kathyrn. Fonte
Muitos deles foram forçados a demitir-se sob suspeita de actividade ilegal, mas nenhum foi julgado, por desfrutarem de imunidade na Bósnia.
A investigação de Bolkovac foi transformada em filme, The Whistleblower, lançado em 2011 (trailer em cima). O Secretário-Geral da UN, Ban Ki-moon, na sequência deste, abriu um painel de discussão sobre o abuso e exploração sexual em situações de conflito e pós-conflito. O cineasta e vários oficiais da ONU abordaram as questões levantadas no filme, tráfico de seres humanos forçados à prostituição, bem como o esforço da organização em combater a exploração sexual de mulheres e crianças.
“Eu era uma investigadora policial certificada em ciência forense e fui contratada para trabalhar na área de violações dos direitos humanos. Meus superiores continuamente tentaram enterrar meus casos. Quando fui promovida na sede das Nações Unidas a supervisionar todos os casos de violência doméstica, violência sexual e tráfico de seres humanos em toda a Bósnia, meus arquivos começaram a desaparecer do escritório dos assuntos internos. Arquivos e mais arquivos com provas contra oficiais dos direitos humanos e polícia local da Bósnia, recolhidas por quem não viu a luz do dia: depoimentos de vítimas, placas com os números de licença com a identificação de emblemas, nomes, tatuagens e até fotografias instantâneas. Tudo isso desapareceu, excepto é claro, as cópias que eu tinha no meu saco Eddie Bauer.“
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1) ter visto o filme. Foi impossível limpar este filme da minha mente. Impossível porque não se trata de um filme de entretenimento. O filme é um perfeito despertar de consciências.
Todos os dias vejo à beira das estradas, jovens (por vezes adolescentes) a venderem o seu corpo. Jovens que na sua maioria não são portuguesas, são aliciadas nos seus países com empregos que lhes vão melhorar a vida, e afinal acordam no mundo da prostituição. Também estamos a falar de tráfego humano. Vemos a cenário externo deste negócio. Não vemos o que se passa nos bastidores. E todos sabemos que se trata de tráfego humano. Então, porque está em plena ascensão em Portugal? Ocorrem rusgas, inclusive aos apartamentos onde as raparigas vivem. Muitas, debaixo de ameaças, até dirão que não são forçadas…que até querem… Durante um tempo desaparecem, mas logo surgem as mesmas ou outras.
Quem está a compactuar ou talvez até ganhar com este tráfego humano? Estamos a permitir que a geração que está nascer olhe para este negócio como algo perfeitamente normal. Se não o fosse, não estaria à mostra a cada esquina, pensarão elas! Pais, pensem ou pouco!
2) Por mero acaso, este assunto foi abordado hoje com uma pessoa amiga, que no seu parecer acções individuais não levam a lado nenhum. Até pode ser. Mas Kathryn não pensou assim. Até colocou a sua vida em risco. Não estou a afirmar que estas acções criminosas, executadas por quem deveria proteger não se repitam, mas o assunto foi exposto, discutido em público e tenho a certeza que é mais fácil perpetuar acções quando estas estão invisíveis ao Mundo.
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