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Tradução do artigo de John Perkins Ayahuasca and Tobacco: Rebooting our systems
Regressei recentemente de outra viagem onde estive com xamãs indígenas nas florestas tropicais da América Latina e de um workshop de nome “Planta Sagrada” no Instituto Omega em Rhinebeck, Nova Iorque. Agora estou cheio de expectativas maravilhosas em torno das minhas próximas viagens ao Kogi da Colômbia em Dezembro de 2018, aos maias da Guatemala em Janeiro de 2019 e aos xamãs ayahuasca na Costa Rica em Janeiro de 2019.
As plantas estiveram na minha mente e no meu coração durante grande parte da minha vida; e agora falam mais alto e com mais força do que nunca. Como os leitores deste blogue bem sabem, eu acredito que nós, seres humanos, estamos a vivenciar uma Revolução da Consciência global e que as plantas estão a levar-nos mais a fundo nessa revolução.
Michael Pollan, no seu livro revolucionário How to Change Your Mind, assim como muitos outros cientistas e pesquisadores, discute a ciência emergente em torno da inteligência e destreza de comunicação das plantas. Apenas alguns exemplos:
Hoje, os botânicos sabem que as plantas podem enviar sinais químicos a grandes distâncias através dos seus sistemas radiculares para alertar outras plantas de mudanças nas condições climáticas e outras ameaças. Os xamãs com quem trabalhei e estudei ao longo de décadas também aprenderam a penetrar nesta consciência vegetal e, no processo, adquirir a compreensão do que as plantas podem fazer para ajudar os seres humanos. Essa ajuda inclui a cura através da ingestão de plantas como medicamentos e aplicá-los como pomadas e cataplasmas. E agora, uma nova consciência surge do mundo das plantas para aumentar a consciência humana.
A consciência das plantas emergiu recentemente, em parte através do interesse crescente em torno do que é referido como “psicadélicos”, como a «ayahuasca», «psilocibina», o cacto San Pedro e a «Nicotiana rustica». Nas minhas viagens e na maioria dos meus workshops, ofereço às pessoas a oportunidade de experimentar pelo menos uma delas.
Embora todas estas plantas – quando tomadas com respeito e sob as condições certas – sejam poderosas, a Nicotiana rustica é especialmente importante. Grande professora em muitos aspectos, é uma variedade particularmente potente de tabaco que cresce selvagem nas florestas tropicais da América Latina e é a mais usada entre todas as plantas consideradas sagradas pelos xamãs de lá. Tem muito mais em comum com a ayahuasca do que com o tabaco Nicotiana que é usado (e corrompido com produtos químicos) para fazer cigarros.
N. rustica contém altas quantidades de «betacarbolinas», incluindo os alcalóides harmane e norharmane – os mesmos encontrados na videira amazónica Banisteriopsis caapi, o principal ingrediente da ayahuasca. Estes «inibidores MAO» estimulam o sistema nervoso central, obstruindo hormonas como a serotonina e norepinefrina. Há muito tempo os xamãs descobriram o que a ciência confirmou, que esses alcaloides de harmala possuem propriedades antidepressivas e muitas vezes são capazes de ajudar as pessoas a tornarem-se emocionalmente mais estáveis e “despertos” para as realidades mais profundas das suas vidas – pessoais e comunitárias (2).
Muitos botânicos e antropólogos acreditam que os norte-americanos nativos usaram a N. rustica nos seus cachimbos e noutras cerimónias – até a chegada dos europeus. Eles teorizam que os xamãs diziam que os colonos estavam tão fora de contacto com a natureza que não conseguiam lidar com o poder da N. rustica e relegaram a sua guarda àqueles que viviam nas selvas remotas da América Latina.
Uma das razões que considero a N. rustica tão mágica é que ela ensina-nos que as percepções governam as realidades humanas. Quando digo às pessoas nos meus workshops ou nas viagens que terão a oportunidade de “pegar o tabaco”, acho que suas reacções reflectem muitas vezes as percepções moldadas por anúncios a favor ou contra cigarros – N. tabacum mais produtos químicos. Quando tomam N. rustica (geralmente como um líquido ou pó cheirado pelo nariz), as suas percepções mudam – e assim a sua realidade!
Como os xamãs enfatizam e eu também durante os workshops: Todas as plantas são professoras. Por exemplo, a hera venenosa prospera não nas florestas profundas mas em áreas invadidas por seres humanos; adverte-nos a manter o caminho, a ficarmos longe da floresta frágil – ou pelo menos a caminhar conscientemente e gentilmente. A amora-preta tem espinhos afiados para nos lembrar de honrar a sua existência e que o trabalho é necessário para saborear os frutos da vida. De pé diante de uma planta, pode sentir a beleza da troca – envia-se CO2 e ela devolve o presente oxigénio. As plantas sagradas e professoras, como a ayahuasca e N. rustica, emergiram na nossa consciência colectiva porque neste momento elas são necessárias.
Vamos relembrar que essas plantas são professores. Elas não são “drogas” e não devem ser usadas de forma leve ou recreativa. Elas têm uma mensagem. E cabe a nós tomar nosso tempo, ouvir e depois agir de acordo com as suas mensagens: garantir a sobrevivência das plantas, animais, rios, florestas e de nós.
Estamos num momento crucial da história da humanidade. Estamos a acordar para o facto de que estamos a mudar os sistemas de navegação da nossa Terra Viva e que estamos a navegar para o desastre. É hora de reprogramar e reiniciar esses sistemas. Tempo para uma nova consciência do que significa ser humano neste planeta e neste universo.
As plantas estão a conseguir. Elas estão a falar para nós. Vamos ouvir. Com respeito e humildade.