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“Sob os nossos olhos” (5/25) – Os Irmãos Muçulmanos como membros do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca – 1ª parte

Nota: links dentro de «» e realces desta cor são da minha responsabilidade

« Sous nos yeux » (5/25) –  “Sob os nossos olhos” (5/25)

Tradução do artigo Les Frères musulmans comme membres du Conseil de sécurité nationale de la Maison Blanche

(Os Irmãos Muçulmanos como membros do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca) – 1ª parte

De Thierry Meyssan

Continuamos a publicar o livro de Thierry Meyssan, « Sous nos yeux ». Neste episódio, ele relembra o primeiro semestre de 2011, durante o qual a Irmandade Muçulmana, apoiada pelos Estados Unidos e Reino Unido, se aproximou ou chegou ao poder na Tunísia, Egipto e Líbia.

 Rede Voltaire / Damasco (Síria) 12 de Julho de 2019

Este artigo foi extraído do livro Sous nos yeux de Thierry Meyssan – 2017

Ben Ali (Tunísia), Kadhafi (Líbia) e Mubarak (Egipto) eram, em 2011, três chefes de Estado sob as ordens de Washington (Kadhafi desde a sua reversão em 2003, os outros dois para sempre). Apesar dos serviços prestados, foram varridos para benefício da Irmandade Muçulmana.

7 – O início da « Primavera Árabe» na Tunísia

A 12 de Agosto de 2010, o Presidente Barack Obama assinou a Directiva de Segurança Presidencial Nº 11 (PSD-11). Ele informou todas as suas embaixadas no Médio Oriente Médio para se prepararem para “mudanças de regime” [1]

Ele nomeia a Irmandade Muçulmana para o Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos para coordenar acções secretas no terreno. Washington implementará o plano britânico da “Primavera Árabe”. Para a Irmandade, chegou o momento da glória.

A 17 de Dezembro de 2010, um comerciante ambulante, «Mohamed» (Tarek) Bouazizi, imolou-se pelo fogo na Tunísia após a polícia ter confiscado a sua carroça. A Irmandade aborda o assunto e faz circular informações falsas de que o jovem era um estudante desempregado e foi agredido por uma policial.

Imediatamente, os homens da National Endowment for Democracy (NED, a falsa ONG dos serviços secretos de cindo Estados anglo-saxões) corrompem a família do falecido, para que não revele a trama e semeiam a revolta no país. Enquanto continuam os protestos contra o desemprego e a violência policial, Washington pede ao presidente Zine El-Abidine Ben Ali para deixar o país, enquanto o MI6 organiza a partir de Londres o retorno triunfante do Guia dos Irmãos da Tunísia, Rached Ghannouchi.

É a «Revolução de Jasmim» [2].  O esquema desta mudança de regime é copiado tanto da partida do Xá do Irão seguida do regresso do imã Khomeiny, como do das revoluções coloridas.

Rached Ghannouchi formou um ramo local da Irmandade Muçulmana e tentou um golpe em 1987. Várias vezes preso e encarcerado, ele exila-se no Sudão, onde beneficiou do apoio de Hassan el-Tourabi, depois da Turquia onde fica mais perto de Recep Tayyip Erdogan (então líder do Millî Görüs). Em 1993, recebeu asilo político no Londonistan, onde morou com as suas duas esposas e filhos.

Duas personalidades que se apresentam como «antiamericanas»: Moncef Marzouki (líder da extrema esquerda e a trabalhar para a NED – EUA) e Rached Ghannouchi (Irmão muçulmano que trabalha para a Westminster Foundation – Reino Unido)

Os anglo-saxões ajudam Rached Ghannouchi a melhorar a imagem do seu partido, o Movimento da tendência islâmica renomeado Movimento Renascentista («Ennahdha»). Para acalmar os medos da população em relação à Irmandade Muçulmana, a NED apela aos seus peões da extrema esquerda.

A « Liga de protecção à revolução» (LPR) é o equivalente tunisino do «Dispositivo Secreto» egípcio. Seu chefe, Ihmed Deghij, recebe de Rached Ghannouchi as instruções sobre as  personalidades a eliminar.

Moncef Marzouki, presidente da Comissão Árabe de Direitos Humanos, representa a garantia moral. Ele garante que os Irmãos mudaram muito e se tornaram democratas. Ele é eleito presidente da Tunísia.

Ghannouchi venceu as eleições legislativas e conseguiu formar um governo de Dezembro de 2011 a Agosto de 2013. Ele introduziu outros peões da NED (National Endowment for Democracy – Ndt), como Ahmed Néjib Chebbi, ex-maoísta e trotskista convertido por Washington. Seguindo o exemplo de Hassan el-Banna, Ghannouchi formou ao lado do partido uma milícia, a Liga de Protecção à Revolução, a qual realizou assassinatos políticos, incluindo o do líder da oposição, Chokri Belaïd.

No entanto, apesar do inegável apoio de parte da população da Tunísia após o seu retorno, o Ennahdha (Movimento da tendência islâmica renomeado Movimento Renascentista («Ennahdha)-Ndt) foi logo colocado em minoria. Antes de deixar o poder, Rached Ghannouchi aprovou leis tributárias destinadas a arruinar a burguesia secular. Dessa forma, ele espera transformar a sociologia de seu país e voltar em breve à tona.

Em Maio de 2016, o 10º Congresso do Ennahdha foi realizado pela Innovative Communications & Strategies, empresa criada pelo MI6. Os oradores garantem que o partido se tornou “civil” e que separa as actividades políticas das religiosas. Mas esta evolução não tem nada a ver com secularismo, os responsáveis ​​são simplesmente convidados a partilhar as tarefas e a não serem eleitos e imãs ao mesmo tempo.

8— « Primavera Árabe» no Egipto

Em 25 de Janeiro de 2011, ou seja, uma semana após a fuga do presidente Ben Ali, o feriado nacional egípcio transformou-se numa manifestação contra o poder. Os protestos são enquadrados pelo sistema tradicional americano das revoluções coloridas: os sérvios treinados por Gene Sharp (teórico da NATO especializado em mudanças suaves de regime, ou seja, sem recorrer à guerra [3]  e os homens da NED (National Endowment for Democracy –Ndt).

Seus livros e brochuras traduzidos para o árabe, incluindo instruções para as manifestações, foram amplamente distribuídos desde o primeiro dia. Muitos desses espiões virão a ser presos, julgados, sentenciados e depois deportados. Os manifestantes são mobilizados principalmente pela Irmandade Muçulmana, que tem entre 15 e 20% de apoio no país, e por «Kifaya» (Já Chega!), um grupo criado por Gene Sharp. Esta é a “Revolução dos Lótus” [4].

Os protestos ocorrem principalmente no Cairo, na Praça Tahrir, mas também em sete outras grandes cidades. No entanto, estamos muito longe da onda revolucionária que levantou na Tunísia.

Os Irmãos  da Fraternidade muçulmana usaram armas desde o início. Na praça Tahrir, eles recolhem os seus feridos para uma mesquita totalmente equipada para prestar os primeiros socorros. Os canais de televisão das petro-ditaduras do Catar, Al-Jazeera e Al-Arabiya da Arábia Saudita, pedem  o derrube do regime e transmitem informações estratégicas em directo.

Os Estados Unidos trazem de volta o ex-director da Agência de Energia Atómica,  o Prémio Nobel da Paz, Mohamed El-Baradei, presidente da Associação Nacional para a Mudança. El-Baradei foi homenageado por ter conseguido acalmar o ardor de «Hans Blix», quando este denunciou em nome das Nações Unidas as mentiras do governo Bush destinadas a justificar a guerra contra o Iraque. Por mais de um ano, ele presidiu uma coligação criada segundo o modelo da Declaração de Damasco: um texto razoável, signatários de todos os lados, além da Irmandade Muçulmana, cujo programa é na realidade completamente oposto ao da plataforma.

Para o porta-voz dos Irmãos Muçulmanos no Egipto, Essam Elarian, pouco importam os Acordos de Camp David, a urgência está em criminalizar a homossexualidade.

Por fim, a Irmandade é a primeira organização egípcia a pedir o derrube do regime.

As televisões de todos os Estados membros da NATO e do Conselho de Cooperação do Golfo prevêem a fuga do Presidente Hosni Mubarak.

O enviado especial do presidente Obama, o embaixador Frank Wisner Jr (padrasto de Nicolas Sarkozy), finge apoiar Mubarak  mas depois alinha-se atrás da multidão. Pediu a Mubarak que se retirasse. Finalmente, depois de duas semanas de tumultos e uma manifestação que reuniu um milhão de pessoas, Mubarak recebe a ordem de Washington para ceder e demitir-se. No entanto, os Estados Unidos pretendiam mudar primeiro a Constituição antes de colocar a Irmandade Muçulmana no poder.

O Poder permanece temporariamente nas mãos do exército. O marechal Mohammed HusseinTantawi preside o Comité Militar que administra os assuntos correntes. Ele nomeia uma Comissão Constituinte de sete membros, incluindo dois Irmãos Muçulmanos. Um deles, o juiz Tareq Al-Bishri que preside aos trabalhos.

No entanto, a Irmandade realiza manifestações todas as sextas-feiras à saída das mesquitas e envolve-se em linchamentos de cristãos coptas sem a intervenção policial.

[1] “Obama’s low-key strategy for the Middle East”, David Ignatius, Washington Post, March 6, 2011. “Identifiying the enemy: radical islamist terror”, Statement by Peter Hoekstra, House Committe on Homeland Security, United States House of Representatives, September 22, 2016.

[2] “Washington face à cólera do povo tunisino”, Thierry Meyssan, Tradução Resistir.info, Rede Voltaire, 27 de Janeiro de 2011.

[3] « L’Albert Einstein Institution : la non-violence version CIA », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 4 juin 2007.

[4] The International Dimensions of Democratization in Egypt: The Limits of Externally-Induced Change, Gamal M. Selim, Springer (2015).

Continua…

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This entry was posted on 25 de Junho de 2020 by in Irmandade Muçulmana, Livros, Sous nos yeux and tagged , , .

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