A Arte da Omissao

ACORDEM

Líbia – A força aérea da Al-Qaeda

.. alguns oficiais militares canadianos em privado  referiam-se  “aos jactos da Nato que  bombardearam Kadafi como ‘A Força aérea da al-Qaeda

Pilotos aéreos de combate  canadianos,  “voaram em 946 missões e largaram  quase 700 bombas” na intervenção NATO do ano passado (2011 – Ndt) na Líbia. [1]

[1] David Pugliese, “The Libya mission one year later: A victory, but at what price?-The Ottawa Citizen, February 20, 2012. http://www.ottawacitizen.com/news/Libya+Mission+Year+Later+victory+what+price/6178518/story.html

Mas em vez de imporem uma zona de exclusão aérea para proteger os civis, os pilotos canadianos — e seus homólogos de outros países da NATO — tomaram partidos no conflito e intervieram directamente em nome dos rebeldes contra Gaddafi. Mas quem eram exactamente os rebeldes que a NATO apoiou na Líbia?

Observações em privado  de alguns oficiais militares canadianos, reportado por David Pugliese  do Ottawa Citizen, sugerem que os rebeldes não eram pessoas comuns sedentas de democracia, como os responsáveis da NATO e os media os retrataram.

Gaddafi um dia afirmou que “a rebelião tinha sido organizada pela Al Qaeda do Magreb Islâmico e pelos seus antigos inimigos LIFG (Libyan Islamic Fighting Group), que tinham prometido derrubá-lo e colocar o país de novo com os valores islâmicos tradicionais, incluindo a lei da Sharia.” [2] Mas tal foi rejeitado pelo Ocidente como sendo propaganda.

[2] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.http://www.ottawacitizen.com/news/Libya+mission+year+later+Into+unknown/6172099/story.html

Um “relatório dos serviços secretos do Canadá escrito no final 2009… descreveu o reduto anti Kadafi na Líbia oriental, (local onde a rebelião começou) “como um epicentro do extremismo islâmico e refere células extremistas a operar na região” [3]

[3] e [4] David Pugliese, “DND report reveals Canada’s ties with Gadhafi”, The Ottawa Citizen, 23 de Abril de 2011.

A inteligência militar canadiana observou “que em 2004, tropas líbias encontraram um acampamento de treino no deserto no Sul do país, que tinha sido usado por um grupo de terroristas argelinos que mais tarde viriam a mudar o seu nome para Al-Qaeda no Magreb Islâmico ou QAIDA.” [4]

3] e [4] David Pugliese, “DND report reveals Canada’s ties with Gadhafi”, The Ottawa Citizen, April 23, 2011.

Abdel Hakim Belhaj, que se “juntou à resistência apoiada pela USA  no Afeganistão soviético e  lutou  ao lado de militantes que viriam a formar a al-Qaeda,” foi emblemático do carácter militante islâmico da insurreição.

“Sr. Belhaj regressou à Líbia na década de 1990 e liderou o grupo LIFG (Libyan Islamic Fighting Group) em ferozes confrontos com o governo do Coronel Gadhafi”. O LIFG estava alinhada com a Al-Qaeda. [5]. Belhaj foi “o líder militar mais poderoso da rebelião.” [6]

[5] Hadeel Al-Shalchi and Maggie Michael, “Libyan rebel hero plays down Islamist past”, The Associated Press, September 2, 2011.

[6] Rod Nordland and David D. Kirkpatrick, “Islamists’ growing sway raises questions for Libya”, The New York Times, September 14, 2011.

Isto deve ter despertado suspeitas sobre a verdadeira natureza da revolta, mas havia um indício anterior que a revolta de Benghazi foi inspirada por algo bem diferente que uma sede de democracia.

A 15 de Fevereiro de 2011, cidadãos em organizaram em Benghazia uma marcha que chamaram  de Day of Anger  / o dia da raiva. A demonstração transformou-se logo numa batalha em grande escala com a polícia.

“Em primeiro lugar, as forças de segurança usaram gás lacrimogéneo e canhões de água. Mas com cerca de cem manifestantes armados com pedras e coquetéis Molotov a atacar edifícios governamentais, a  violência ficou fora de controle. Manifestantes gritavam, ‘nenhum Deus senão AllahMoammar é o inimigo de Deus’.” [7]

[7] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.

Hoje, a Líbia é uma zona de guerra entre milícias concorrentes. O Conselho Nacional de transição, ungido pelo ocidente como representante legítimo do povo líbio, não tem autoridade. E agora, um ano após a “revolta” ter começado, alguns responsáveis da NATO admitem que própria NATO alinhou com militantes rebeldes islâmicos para derrubar Gaddafi [8]

[8] Steven Mufson, “Conflict in Libya: U.S. oil companies sit on sidelines as Gaddafi maintains hold”, The Washington Post, June 10, 2011

De acordo com David Pugliese do Ottawa Citizen, alguns oficiais militares canadianos referiam em privado “aos jactos da Nato que  bombardearam Kadafi como ‘A Força aérea da al-Qaeda‘.” [9]

[9] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.

Os paralelos com a Síria são óbvios. Assim como o governo de Gaddafi  lutou contra insurreições de militantes islâmicos ao longo dos anos, assim luta também o governo de Bashar Assad na Síria. [10] Vários países da NATO têm apelado por uma intervenção também lá.

[10] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.

Mas é claro que qualquer intervenção da NATO na Síria será a repetição da Líbia, com as forças da NATO a apoiar militantes islâmicos com o único objectivo de varrer o governo do poder, pois os interesses económicos do Ocidente não estão totalmente confortáveis com ele. Síria também pratica nacionalismo económico.

O governo de Assad elaborou uma nova Constituição, que vai ser submetida a um referendo,  que promete uma democracia multipartidária e responde aos pedidos de reformas democráticas do Ocidente — mas agora, na véspera da sua entrega, rejeitam-na como “sem sentido”. [11]

[11] David M. Herszenhorn, “For Syria, reliant on Russia for weapons and food, old bonds run deep”, The New York Times, February 18, 2012.

Além de permitir que várias partidos contestem as eleições e que vários candidatos concorram à Presidência, a nova Constituição determina que os recursos do país são propriedade pública (significa que o país irá praticar o mesmo “nacionalismo de recursos” que colocou Gaddafi em apuros), e que a economia será direccionada, em vez de laissez-faire. [12]

[12] SANA, February 18, 2012

As reformas democráticas são em grande medida irrelevantes para o ocidente. Caso contrário, seria feita mais pressão à Arábia Saudita, Bahrain, Catar e outros “petro-principados” –  dos quais empresas petrolíferas ocidentais ganham biliões de dólares em lucros — para mudar as suas maneiras. Em vez disso, Bahrain, local de uma revolta que está a ser violentamente reprimida, continua a receber apoio e armas dos Estados Unidos.

O apelo para reformas democráticas — em alguns países, não outros — são só  pretextos para a intervenção. A motivação real do Ocidente em apoiar revoltas na Líbia e Síria são económicas: converter o nacionalismo de recursos e medidas de desenvolvimento económico independentes, em esferas de escoamento de lucro para serem explorados por bancos ocidentais, empresas e investidores.

Em busca desses objectivos, os países da NATO estão dispostos a aliar-se com qualquer um. Até mesmo à al-Qaeda.

 

[1] David Pugliese, “The Libya mission one year later: A victory, but at what price?-The Ottawa Citizen, February 20, 2012.http://www.ottawacitizen.com/news/Libya+Mission+Year+Later+victory+what+price/6178518/story.html

[2] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.http://www.ottawacitizen.com/news/Libya+mission+year+later+Into+unknown/6172099/story.html

[3] e [4] David Pugliese, “DND report reveals Canada’s ties with Gadhafi”, The Ottawa Citizen, April 23, 2011.

[5] Hadeel Al-Shalchi and Maggie Michael, “Libyan rebel hero plays down Islamist past”, The Associated Press, September 2, 2011.

[6] Rod Nordland and David D. Kirkpatrick, “Islamists’ growing sway raises questions for Libya”, The New York Times, September 14, 2011.

[7] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.

[8] Steven Mufson, “Conflict in Libya: U.S. oil companies sit on sidelines as Gaddafi maintains hold”, The Washington Post, June 10, 2011

[9] David Pugliese, “The Libya mission one year later: Into the unknown”, The Ottawa Citizen, February 18, 2012.

[10] Stephen Gowans, “Syria’s uprising in context,” what’s left, February 10, 2012.http://gowans.wordpress.com/2012/02/10/syrias-uprising-in-context/

[11] David M. Herszenhorn, “For Syria, reliant on Russia for weapons and food, old bonds run deep”, The New York Times, February 18, 2012.

[12] SANA, February 18, 2012

fonte: Al-Qaeda’s Air Force

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Ao longo dos anos, tem sido normalizado com grande sucesso, que a Nato em nome de falsas bandeiras, desestabilize países,  invada nações, mate, bombardeie e fique impune desses crimes.

No início, acreditei na genuinidade da “primavera árabe”, mas o efeito dominó passou a ser muito suspeito. Podemos até saber que são manobras políticas, mas é bem mais fácil dizermos “sempre foi assim”, “o que se pode fazer”…

Temos de inverter esta nossa aceitação “cómoda” que no fundo acaba por normalizar estes crimes que assistimos. Digamos aos órgãos de informação ocidentais, que sabemos que são puros agentes da campanha  de desinformação tão necessária. Transmitamos o nosso total desagrado contra a normalização do direito à Ingerência de Nações a outras Nações e da respectiva impunidade pelos crimes inerentes.

É na nossa mente que a mudança tem de começar.

 

A entrevista de 2007 a Weslay Clark não legendada e completa pode ser vista em http://www.democracynow.org/2007/3/2/gen_wesley_clark_weighs_presidential_bid.

Nota: Palavras / frases  desta cor são da minha responsabilidade

One comment on “Líbia – A força aérea da Al-Qaeda

  1. Maria Celeste Ramos
    26 de Fevereiro de 2012

    É favor não esquecer quem são os “canadianos” esses anjinhos – Bem vou ouvir na sic José Cyd + Manuel Alegre – problemas caseiros (04:15H- 26 fev 2012)-Cyd tem mesmo graça

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This entry was posted on 25 de Fevereiro de 2012 by in Líbia and tagged , , , , , , .

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